BRINCAR COM A VIDA É ERRADO?

 

        Costumam dizer que eu brinco com a sorte, costumam dizer mais fundo, que eu brinco com a vida. Estarei errado se assim faço?

        Dizem os que me querem que neles não penso, sou egoísta, fatal, frio, desinteressado da falta que poderei fazer. Dizem os mais gozados que sou bom vivant, que sei aproveitar a vida, que vivo a cada momento como sendo o ultimo. Será? E dizem os que me invejam, debaixo da falsa capa da aceitação, que sou exemplo. Até quando a sorte me faltar, é no que eu acredito.

        Mas a realidade é que nada disso eu vejo ou penso ao viver, apenas vivo e sigo minhas emoções, de momento e re pensadas, mas iguais. Gosto de ouvir música bem alto, contrariando cuidados com audição, gosto de “mamar” (beber) uns traguinhos exagerados somente em final de semana e faço isso sozinho,m em casa, longe de possíveis encrencas, Mas acho que rum sendo cachaça, por ser de origem estrangeira é melhor do que a nossa da garrafa de botequim e menos adulterada. E não a tomo pura, ah não, só com coca cola, outro veneno, mas sem limão ou gelo. Gosto de sair pela rua livre como e com o vento, sempre ostentando vestuário de mais novo e com certos emblemas tatuados no braço ou mão, mostrar o que se não são reais tatoo e sim fake. Relaciono-me com homossexuais (no puro sentido), mas detesto bichinhas ou travestis (sem os condenar), qual a diferença pra sentir essa discriminação? Gosto de amigos de ponto, telefone, e-mails, botequins, não de cabide, ou seja, pendurados na amizade ou tendo que visitar para assim nos sentir sendo. Fumo desde os vinte, gosto de cigarro e lamento a grana que gasto por eles, mas não quero parar, mal parecem não me faze e se fazem, ocultam. Se descubro amanhã, jamais os culparei por isso ou pensarei eles sendo causadores. Que merda para médicos não? Ando sozinho na madruga na rua, sem medo de assaltante ou malandro, corro risco, eu sei, mas sou assim mesmo. Desafio às coisas que não conheço me evito as que eu sei me prejudicar, ou assim de livre arbítrio as aceito. Não pego chuva, detesto vento no corpo, gosto de ver, gosto de sol se não muito quente, gosto de praia e quase não vou mais, Gosto de samba, pagode, ritmos que sacudam o corpo, mas conheço e bem os limites de minha resistência. O sexo já não me faz procurar, aceito as nuances que ainda me surgem.  Não gosto de tomar medicamentos alopatas ou de médicos, procuro os que me vêm à cabeça em chá ou ervas, sem curandeiros.

        E estou vivendo, estou amando, estou divertindo, estou seguindo como dizem no misturado, meu caminho que traço sendo feliz, sabendo viver a vida, me arriscando, abusando da sorte. Mas será?

        Droga! Pouco fico doente, pouco estou triste, pouco sinto solidão e sinto bastante nostalgia, coisa que só as boas lembranças provocam. Eu já estou com setenta anos, e bem vividos como podem supor, o que vier agora é lucro, a desculpa da morte para me abraça mais cedo, mas tarde, aos cento e cinco anos... Quem sabe? Estou certo ou errado?