O QUE É SER ATOR DE VERDADE
Freqüentei cursos, fiz oficinas, andei buscando em todos os lugares a melhor perfeição para a minha arte de interpretar e depois de muitos anos foi que descobri ela sempre ter estado comigo e independente dessas coisas para aprender.
Minha visão me mostra uma Fernanda Montenegro e um Tony Ramos, dois dos que acho perfeitos atores, ícones dessa arte no demonstrativo das emoções. Mas como chegar lá, ser pelo menos aproximado do que eles conseguem? Pensei e pensei, busquei e busquei e então agora, no ocaso da vida descubro que é simples a resposta. Como um ser humano poderá sentir tal sentimento exigido no exercício da função, se o verdadeiro sentimento nele nunca existiu? Aproximar do óbvio do que se julga ser ódio, isto se pode, pois todos nós sentimos ódio... Mas e os demais sentimentos desconhecidos, aquele que vida afora nunca sentimos ou sentiremos, e só podemos imaginar como seja? Sentimento de ladrão, de assassino, de louco, e tantos outros que sabemos existir nos outros, mas não achamos dentro de nós? Mas o bom ator consegue mostrar isso com perfeição, o médio ator tenta e convence, o ruim decepciona e o péssimo, é expulso da tentativa, mas todos são atores.
Foi isso descobrindo que achei também outra resposta, isso pode ser imaginado, então passado de sentir, mesmo que imperfeito do óbvio, da grande verdade de ser como ou igual. Fica mais ou menos decidido que, na hora exigida, se vá dentro de nós buscar semelhanças, algum fato, visão ou notícia que abalou ou maravilhou, e lá está nosso personagem encenado. Junta-se a isso um particular jogo cênico (a fisionomia aí então é que vai atuar) e quem nos assiste acredita que sentimos aquilo, somos aquilo ou divertimos com a ilusão de ser aquilo.
Ha atores excelentes se no grau do improviso e péssimos se dirigidos, ha outros péssimos se no improviso e ao contrário, excelentes, quando alguém lhes manda como fazer, e a outros que atuam nos dois sentidos, os perfeitos atores.
Eu me julgo ator, não sei se sou, mas sinto dificuldade de obedecer a comandos e me sinto mais perfeito se deixado livre, imaginando o meu assassino, o meu ladrão, o meu louco. E perdem-me diretores e produções quando esses não conseguem me aceitar assim, me julgando bom ou não ator porque me querem seguindo a regra que acham de ser o certo do personagem encenado. Mas se me dão a chance de provar nessa teoria, dizem... Bravo!
Por causa dessa questão sou ator que a mídia perde por não conhecer a capacidade, ator que, se entrando sozinho em um palco pode impressionar, mas se dirigido, talvez não agrade tanto. E assim levo essa vida de sentir a vida do alheio só por minutos, horas, um dia ou meses, onde esse ser me dado a sentir, seja necessário.
Por Arlindo Duplo - Ator