AS CONFISSÕES DE UM ATOR

06-10-2010 

ATOR (Ajoelhado em um confissionário)

 

---- Todos pensam que a vida de um ator é somente maravilhas, festas, aparecer nas telas, ser notado nas ruas e aparecer em manchetes, curtir a fama e ganhar bastante dinheiro. Mas quem dera fosse somente isso.

         Começa que ao se tornar famoso sua liberdade de ir e vir encurta. Se vai a um restaurante tem que ser tarde da noite onde somente os notívagos caminham ou então é batata... Lá vem pedido de autógrafo, contar como está a novela, o fim do filme e o escambau. E lá se vai a privacidade e mastigar em paz um filé sossegado.

         Se descobrirem o seu telefone ou endereços, chovem e-mails, telefonemas a qualquer hora, pedido de emprego, cantadas, enfim um inferno dia e noite e se tem empregada ela tem que ser inteligente ou ferra mais o coitado ainda. Se vai ás compras mesmo que disfarçado, tem que agüentar os fatais...  “Olha como se parece”. “Não é aquele...” e toma de caras e bocas para parecer ao contrário.

         Mas o pior mesmo é no ambiente do trabalho começando por ter que trabalhar com hora marcada de começar, mas nunca de terminar, e ficar vezes repetindo a mesma coisa se alguém erra alguma coisa na cena, ou por meses, ou anos a fio o mesmo texto. Não se iludam com aquelas gargalhadas que assistem no vídeo show, elas só acontecem diante das câmeras, são teatrais.

          Cenas de sexo são todas elas infalivelmente um horror, tendo que agüentar por baixo ou por cima uma parceira (ou parceiro mesmo) descorada por falta de sol porque foge dele (e se homem, peludo), cheirando a perfume porque atriz ou ator que se preza tem medo de feder, caricata nos gestos, no olhar e movimentos, sempre preocupada(o) de como irá aparecer em cena e ainda por cima doida(o) para a cena acabar quando mesmo nem começou. Cadê tesão para fingir comer uma mulher (ou homem) dessa(e). Isso sem citar que o hálito às vezes, quase nos mata.

         Tem alguns, que de propósito querendo nos roubar a cena, comem alho ou cebola antes só para nos espantar com o hálito e perturbar, outras(os) ficam se queixando do nosso peso, das cutucadas, dos amassos, gestos necessários porque sem eles não é uma foda, enfim sempre parando a cena dizendo ao diretor que estamos exagerando. E outras(os) ainda exageram naqueles olhares sexy, apertam ou arranham nossa carne fingindo estertor, suspiram com aquele hálito bandido capaz de espantar um elefante. Isso quando não é menos bonita (ou gay) e de nós tiram casquinha apertando onde podem, mas não por prazer somente, também querendo desvirtuar nossa emoção.  Cenas com animais, estas então são tristes. Eles fingem gostar do bichinho, mas só lhes tocam por obrigação e depois reclamam, xingam, chamam de fedorento e asqueroso. Ator é feito pra mentir, e como mentem todos os atores meu Deus.

         Outra coisa é a ilusão que todo ator passa para o público nas cenas que faz, e que são as que os tornam famosos e conhecidos, mas na realidade é tudo diferente, a maioria é sem educação, adora se vestir brega, olhar sem ver ninguém somente o seu ego, e quer mais é que o público se dane quando estão fora do celulóide (ou de um palco). Adora se sentir principal, se a cena é perigosa ele exige um dublê, outro coitado de menos valor que pode até morrer em seu lugar, se o cachê é miúdo ele se nega a trabalhar, se mora afastado, exige condução na porta de casa e, se é cena de exteriores, quer segurança por todo lado, cadeirinha pra descansar, bebidinha pra refrescar e sempre um maquiador por perto.

         Jamais acreditem em amizade entre atores, elas somente existem em fotos e reportagem porque na verdade, um sempre quer comer o outro e basta olhar nos olhos deles quando estão interpretando para se ver a expressão de espião. Somente não mostra isso quando têm que chorar, sentir alguma emoção forte necessária dos olhos para mostrar, mas então na certa só estarão olhando para uma câmera e no teatro, suspiram de alívio porque esse tipo de olhar nunca é exigido devido á distância com o público.

         Em suma, o cara é tão exigente que exige diretor bonzinho, exige público bem afastado, parceiro de cena cheiroso e capaz, luz certa na cena, comida boa no refeitório, animais à distância, ameaças bem longe, palco espaçoso, holofotes e câmeras sempre a disposição e principalmente cachê ou contrato bem gordo. È tudo isso e tem que mostrar que não é ou o público não o reconhece.  Viu só seu padre quanto sacrifício para ser ator?

 

PADRE (No confessionário) ---- PUTA QUE PARIU!